Permacomputação
Permacultura é tentar fazer agricultura de tal forma que, uma vez que a plantação esteja montada, somente o mínimo de manutenção seja feita para que ela se mantenha. Em outras palavras: é fazer uma plantação que seja permanente.
Essa é uma ideia muito poderosa pois dizer que algo é permanente é praticamente impossível. Mas não quer dizer que possamos tentar fazer durar o máximo de tempo possível.
O grande desafio em fazer isso acontecer é que este sistema deve ser *sustentável*, ou seja:
- ele deve ter todas as condições para se manter sozinho;
- ele deve suportar diferenças no seu ambiente de forma flexível sem prejudicar sua capacidade de produção; e
- deve fazer tudo isso sem consumir mais do que é capaz de produzir;
Agora, imagine tentar aplicar esses princípios para a computação.
Ou seja, queremos construir sistemas computacionais que durem para sempre com o mínimo de interferência humana o possível. Dizer que o sistema vai funcionar para sempre requer que:
- ele funcionará por muito tempo sem interferência humana;
- uma única pessoa é capaz de compreendê-lo por inteiro e fazer sua manutenção quando necessário (e de passar as instruções necessárias para tal à frente);
- ele será capaz de se comunicar com outros sistemas no futuro.
Esta é ideia por trás da permacomputação.
Pode não ser óbvio à primeira vista, mas construir um sistema computacional seguindo estes princípios pode ser bastante vantajoso.
O mais importante é que um sistema desses minimiza os impactos causados no meio ambiente. Quando se fala por aí de termos um futuro sustentável, esse é um dos fundamentos que devemos ter em mente: se continuarmos consumindo recursos finitos, eventualmente eles acabarão. Encontrar formas de substituí-lo por outros que podem ser reutilizados ou infinitos de alguma forma é uma maneira de manter o ambiente saudável e garantir sua existência no futuro. Afinal de contas: sem um ambiente, não existirá um futuro.
Uma conclusão desta ideia é que sistemas construídos desta maneira devem ser facilmente reparáveis por uma única pessoa. Veja bem: se ele for durar par a sempre, então eventualmente quem o construiu deverá deixar documentação para trás o suficiente para que ele seja reparável caso alguma mudança seja necessária ou porque ele foi danificado por algum motivo. Até porque essa pessoa não existirá para sempre para mantê-lo! Este tipo de documentação só pode existir se o sistema foi simples o suficiente ao ponto de que uma única pessoa (ou no máximo uma pequena equipe) seja capaz de compreendê-lo por completo e fazer as mudanças por conta própria. Construir um sistema assim pode não ser fácil porém, uma vez construído, é relativamente simples de se manter.
A grande questão agora é: como seguir estes princípios na prática?
O nome permacomputação surgiu apenas recentemente e, apesar de já existirem outras ideias com um objetivo similar, tem pouco tempo que sistemas com este princípio estão começando a surgir. Infelizmente, ainda é uma ideia muito difícil de se colocar em prática.
Por exemplo: o hardware da grande maioria dos computadores que existem hoje em dia é feito por máquinas muito complexas; em sistemas bastante burocráticos; e às quais pouquíssimas pessoas tem acesso. A ideia de construir computadores que qualquer um possa reconstruir; com documentação aberta ao público; e que sejam capazes de substituir os já existentes de maneira razoável pode ser absurda à princípio mas ela deve partir de alguma lugar!
Da mesma forma, estes computadores deverão executar algum software. E a grande maioria do software escrito hoje em dia sofre dos mesmos problemas: eles contem tantas partes que praticamente ninguém consegue compreender um programa muito complexo por inteiro (e por inteiro, eu quero dizer do seu próprio código-fonte, passando por suas dependências; compiladores/interpretadores; até o sistema operacional). Aqui, já existem algumas ideias interessantes, como as linguagens de programação Forth e Lua; além de uma longa tradição de programas em C que foram feitos para que uma única pessoa compreenda tudo (mesmo que tenham sido desta maneira por acidente).
Por mais absurdas que ideias assim sejam, elas podem a única chance que teremos de viver um futuro nesta Terra já que, se continuarmos consumindo energia e matérias-prima da maneira que estamos agora, eventualmente esses recursos acabarão e não teremos muito para nos mantermos. Pensar sobre isso agora é fundamental para que possamos construir uma existência que seja viável não somente para nós, mas para todas as futuras gerações aqui.
Se esta ideia lhe interessou, seguem alguns links que tratam deste assunto de uma forma mais profunda (todos em inglês):
Primeira introdução à ideia Permacomputing Wiki Introdução à permacomputação por Devine Lu Linvega Compudanzas sobre permacomputação